O post de hoje vai ser pra falar dessa trilha super legal e quase desconhecida, que também fiz com o grupo VRTT, no dia 15 de fevereiro de 2021. O roteiro acontece sobre os trilhos da antiga rodovia que ligava Barra Mansa a Angra dos Reis e passa por dois túneis de pedra, um extenso caminho de mata fechada e termina num paredão de pedra que o guia chamou de chuveirão.
Saímos de Barra Mansa às 6:30 da manhã, fizemos a clássica parada em Lídice para tomarmos um café e seguimos para a estação Alto da Serra.
Deixamos a van e caminhamos por cerca de meia hora até a estação, que embora esteja abandonada e em ruínas, proporciona belas fotos, já que é cercada pela mata atlântica e possui um extenso e verde gramado à sua frente. A poucos metros da estação já é possível visualizar o primeiro túnel, precedido por um lindo paredão de pedras.
O segundo túnel não é tão distante do primeiro mas as marcações das datas entre um e outro têm diferença de dois anos (1922 e 1924) o que nos fez rir bastante quando comentamos que não é de hoje que as obras no Brasil demoram a ficar prontas. Ele é um pouco mais extenso mas a paisagem ao seu final é ainda mais bonita. Recomendo levar lanterna pois não dá pra ver um palmo à frente do nariz lá dentro.
Como a trilha estava praticamente inexplorada, o mato estava bem alto e havia muitos galhos de árvores para nos esquivarmos. No caminho nos deliciamos com muitas goiabas e morangos silvestres e também pegamos uma chuvinha boa. Minha dica é usar bota de trilha, de preferência de cano mais alto, como era a minha, e levar capa de chuva.
Após o percurso em mata praticamente fechada, começamos a visualizar a baía de Angra do Reis, lá das alturas, uma vista incrível! Alguns metros adiante paramos para lanchar à beira do pontilhão e foi aí que começou o perrengue da vez.
O cenário era estonteante: o pontilhão nas alturas e a baía de Angra lá embaixo, à direita, eram a garantia de fotos incríveis mas quando eu coloquei o pé no primeiro dormente e olhei para baixo quem ficou dormente foram as minhas pernas. A empolgação se transformou em medo em questão de segundos e eu simplesmente não consegui andar. Me agachei e fui,praticamente engatinhando, até uma curta distancia da base para poder tiras as fotos. A sensação de medo que tomou conta de mim foi inexplicável. Voltei para a “terra firme” para lanchar com um único pensamento dominando a minha mente: como eu vou conseguir atravessar esta merda?
Eu juro que tentei convencer o grupo que eu poderia ficar ali sozinha até eles voltarem mas o guia disse que não poderia me deixar ali, então eu tive que atravessar e fiz a vergonha do rolê. Pra vocês terem noção, no grupo tinha algumas senhoras na casa dos 60 anos e eu fui a única pessoa que teve um ataque de pelanca. Comecei a suar frio e minhas pernas bambearam. Tive vontade de chorar e só consegui atravessar porque a minha amiga Patricia me deu a mão e foi va-ga-ro-sa-men-te me conduzindo, cheia de paciência e frases motivacionais do tipo: “Sue, se você cair, você não passa no vão trilho”. Isso era tão óbvio! Mas nenhuma lógica se aplica quando somos tomados pelo medo, não é mesmo? Fomos as primeiras a travessar e quando conseguimos, a galera começou a aplaudir e eu me senti mais idiota ainda quando vi que todo mundo atravessou numa boa!
Depois desse perrengue de respeito, caminhamos mais um tempo pela mata fechada até que finalmente chegamos ao chuveirão. Eu confesso que esperava mais mas depois eu acabei me rendendo à beleza do lugar: um paredão de pedra com uma pequena queda d’água extremamente gelada. Como eu já tava molhada da chuva (já que minha capa de chuva descartável acabou rasgando) e a minha dignidade já havia sido jogada ponte abaixo, eu me enfiei debaixo do chuveirão e acabei de ficar ensopada de uma vez, porém agora eu estava ensopada e congelada mas foi super divertido, até o momento que eu lembrei que teríamos que passar novamente pela maldita ponte. Retornamos pelo mesmo caminho e pegamos uma chuva um pouco mais forte mas a pior parte mesmo, foi ter que refazer a travessia do pontilhão novamente de mãozinha dada com a Patricia, porém, dessa vez deixei para atravessar por último. A sensação foi “um pouco menos ruim” porque se eu disser que foi melhor, estarei exagerando.
Embora a gente tenha subido bastante, não senti nenhum desgaste físico pois a subida foi bem suave. Só deu pra ter noção mesmo da altura em que estávamos, quando contemplamos Angra lá do alto. Levamos cerca de 4 horas para fazer todo o percurso calmamente e com duas longas paradas: a do pontilhão e a do chuveirão.